Estágio em Jornalismo completa 10 anos como exigência curricular e revela desafios na formação profissional
Pesquisa da ABEJ mostra avanços e fragilidades no estágio supervisionado, enquanto a profissão enfrenta a banalização do exercício jornalístico por pessoas sem formação acadêmica.
Estudantes de Jornalismo durante atividades de estágio supervisionado, prática obrigatória e essencial à formação profissional no Brasil - Foto: Divulgação
Rio das Ostras – Em 2025, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de Jornalismo completam dez anos de implantação, consolidando a obrigatoriedade do estágio curricular supervisionado como requisito indispensável para a conclusão da graduação.
A trajetória do estágio no Brasil reflete as transformações do mercado e a regulamentação da profissão. A Lei nº 11.788/2008, conhecida como Lei do Estágio, e a atualização das DCNs em 2013 estabeleceram que o estágio é um ato educativo e formativo, desenvolvido sob acompanhamento docente, e que deve ocorrer nos períodos finais da graduação.
Com isso, universidades e faculdades de Jornalismo de todo o país precisaram se adaptar, criando regimentos e sistemas de acompanhamento que assegurem a qualidade da experiência prática dos estudantes.
Pesquisa da ABEJ aponta desafios
Uma pesquisa conduzida em 2025 pela Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ), na Região Centro-Oeste, ouviu 116 estudantes de Jornalismo do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O levantamento revelou que, embora o estágio seja reconhecido como fundamental para o aprendizado e a inserção no mercado, muitos estudantes enfrentam condições irregulares e falta de supervisão adequada.
Dos entrevistados, 20 afirmaram ter estagiado sem assinar o Termo de Compromisso, o que configura descumprimento da legislação. Além disso, quase metade relatou jornadas superiores a seis horas diárias — acima do limite legal — e 36 disseram cumprir horas extras com frequência.
Outro ponto preocupante é que 90 estudantes utilizam equipamentos próprios para desempenhar suas funções, e 93 realizam as mesmas atividades de profissionais contratados, o que evidencia a precarização do estágio.
As coordenadoras da pesquisa, Luciane Agnez (UFG) e Dione Moura (UnB), afirmam que o estágio precisa manter seu caráter pedagógico e não ser tratado como simples mão de obra:
"O estágio é ato educativo, desenvolvido no ambiente de trabalho, e visa à preparação para o exercício profissional. Não pode substituir o ensino nem se confundir com contratação disfarçada", destacam as pesquisadoras.
Formação ameaçada pela desvalorização profissional
Enquanto em todo o país os estudantes de Jornalismo enfrentam desafios para cumprir as exigências curriculares e consolidar sua formação, em Rio das Ostras cresce o número de pessoas atuando como "jornalistas" sem formação acadêmica, muitas delas com apenas o ensino fundamental.
Essa prática, além de ferir o princípio da ética profissional, desvaloriza o jornalismo sério e compromete o futuro da comunicação local, ao oferecer um péssimo exemplo para jovens que estão se qualificando para ingressar na área.
A situação se agrava quando órgãos públicos e empresas locais legitimam essas práticas, contratando ou dando visibilidade a pessoas sem habilitação legal. Em um cenário de desinformação e fake news, o risco é ainda maior: a banalização da profissão mina a credibilidade do jornalismo como serviço público e instrumento de cidadania.
"Vivemos um tempo em que qualquer pessoa com um celular se sente jornalista. Mas o jornalismo exige técnica, ética, apuração e responsabilidade social. Precisamos valorizar quem estuda, quem busca formação e quem entende o compromisso que a informação tem com a verdade", afirma Ricardo Marcogé, presidente da Associação Regional de Empresas e Profissionais de Mídias Digitais do Estado do Rio de Janeiro.
Valorização da juventude e do conhecimento
Com o avanço das tecnologias digitais e o acesso fácil às redes sociais, muitos jovens acreditam que o domínio técnico é suficiente para seguir carreira na comunicação. No entanto, a formação acadêmica é o que garante a base teórica, ética e social indispensável ao exercício do jornalismo.
"A juventude precisa entender que o conhecimento não se resume ao digital. A formação teórica é o que transforma informação em credibilidade. É estudando que se constrói o jornalismo de verdade", completa Marcogé.
Por Ricardo Marcogé
Advogado e Jornalista, com Pós-Graduações em Jornalismo Investigativo, Jornalismo Digital e Inteligência Artificial no Jornalismo. Atual Presidente da Associação Regional de Empresas e Profissionais de Mídias Digitais do Estado do Rio de Janeiro.
















